sexta-feira, 11 de julho de 2014

O Dia do Chacal – Frederick Forsyth

Você talvez conheça “Os Pinguins de Madagascar”. Do grupo de pinguins com habilidades características, destaca-se o mais robusto deles, Kowalski, a quem sempre é delegado o trabalho mais duro. E não é que este nome e características provavelmente derivam de “O Dia do Chacal”?

Esta dica de leitura vai empolgar os fãs de espionagem e conspirações. Frederick Forsyth foi jornalista e atuou na Europa das décadas de 60 e 70, tendo testemunhado um período político (para variar) conturbado, com a ascensão de governos de extrema direita e o desmoronar das últimas colônias.
Aproveitando este instigante contexto histórico, Forsyth escreveu bem sucedidos thrillers, no melhor estilo “James Bond”.  Além do mais famoso e primeiro sucesso “O Dia do Chacal”, escreveu ainda “Dossiê Odessa”, “O Quarto Protocolo” e “A Alternativa do Diabo”, todos desconhecidos para mim, espero que por pouco tempo.

Às primeiras páginas do livro, contextualizando a política da França e os reais atentados à vida do Gen. Charles De Gaulle, eu confesso que a leitura parecia morosa. Lá pela página 80, no entanto, você já está nas mandíbulas da trama, e não largará o livro. Um assassino minucioso e elegante age como um preciso instrumento na conspiração para matar o presidente da França, e o leitor acompanhará seus movimentos, assim como os de seus oponentes, representados pelas forças de segurança encarregadas de proteger o chefe de estado.

Forsyth tem habilidade em manter o ritmo da trama. Você não consegue realmente torcer apenas para um lado, e não fica entediado sequer por uma página. Ficará intrigado com a atitude de absoluto controle do assassino, que manipula a seu favor o tempo, a elegância, a qualidade do que utiliza. Em seus caminhos, cenas de crueldade e flertes com ricas mulheres em hotéis exclusivos:

(pg 313)... Tinha ficado por alguns momentos olhando a paisagem adormecida, até que ela olhou para ele e viu que os olhos dele não estavam voltados para a janela mas, sim, para o profundo sulco entre os seus seios, onde o luar dava à pele uma brancura de alabastro.
Ele sorriu ao ser surpreendido e lhe dissera ao ouvido:  - O luar faz até do homem mais civilizado um primitivo.
(...)A coxa era comprimida por ele abaixo do ventre e ela lhe sentia a rígida arrogância do membro. Por um segundo, afastou a perna e logo voltou a encostá-la, com o prazer daquela pressão no cetim do vestido. Não houve um momento consciente de decisão; percebeu sem esforço que o queria desesperadamente entre suas coxas, no íntimo de suas entranhas, a noite inteira.

Do outro lado, o encarregado pelas investigações Claude Lebel, ao melhor estilo do investigador que possui determinação e instintos, que o fazem ser reconhecido e obter a cooperação das principais polícias do mundo. Com ele, a missão de encontrar uma anônima ameaça, sob pena de comprometer sua carreira e o futuro de seu país, e ainda fazê-lo de maneira discreta, evitando o constrangimento para De Gaulle, que se recusa a alterar sua agenda e reduzir a exposição pública.

Tudo se passa, obviamente, num mundo sem internet ou e-mails. Os esforços de comunicação entre polícias e conspiradores passa por casas de câmbio, reservas em poucas cias aéreas, telefonemas internacionais que demoram meia hora para serem completados, diferentes documentos de identidade e exigências legais de diferentes países, no que Forsyth tem a oportunidade de mostrar os resultados de uma vida de viagens pela Europa, e o domínio de mais de três idiomas. Um verdadeiro cidadão do mundo, numa época em que a logística e as comunicações ainda não dispunham de tecnologia que garantisse sua eficiência.


Vale muito a leitura!

Um comentário:

  1. O dia do Chacal é um dos meus livros preferidos. Histórias incríveis baseados em fatos reais me fascina. A bala passar ao lado da orelha de De Gaulle bem no momento em que ele abaixou a cabeça parece um truque barato de livro, mas é verdade, e aí a gente se pergunta se tem uma mão desconhecida por detrás dos fatos, orientando o rumo da História. Muito bem escrita a sua resenha.

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