Você talvez conheça “Os Pinguins
de Madagascar”. Do grupo de pinguins com habilidades características,
destaca-se o mais robusto deles, Kowalski, a quem sempre é delegado o trabalho
mais duro. E não é que este nome e características provavelmente derivam de “O
Dia do Chacal”?
Esta dica de leitura vai empolgar
os fãs de espionagem e conspirações. Frederick Forsyth foi jornalista e atuou
na Europa das décadas de 60 e 70, tendo testemunhado um período político (para
variar) conturbado, com a ascensão de governos de extrema direita e o
desmoronar das últimas colônias.
Aproveitando este instigante
contexto histórico, Forsyth escreveu bem sucedidos thrillers, no melhor estilo “James Bond”. Além do mais famoso e primeiro sucesso “O Dia
do Chacal”, escreveu ainda “Dossiê Odessa”, “O Quarto Protocolo” e “A
Alternativa do Diabo”, todos desconhecidos para mim, espero que por pouco
tempo.
Às primeiras páginas do livro,
contextualizando a política da França e os reais atentados à vida do Gen.
Charles De Gaulle, eu confesso que a leitura parecia morosa. Lá pela página 80,
no entanto, você já está nas mandíbulas da trama, e não largará o livro. Um
assassino minucioso e elegante age como um preciso instrumento na conspiração
para matar o presidente da França, e o leitor acompanhará seus movimentos,
assim como os de seus oponentes, representados pelas forças de segurança
encarregadas de proteger o chefe de estado.
Forsyth tem habilidade em manter
o ritmo da trama. Você não consegue realmente torcer apenas para um lado, e não
fica entediado sequer por uma página. Ficará intrigado com a atitude de
absoluto controle do assassino, que manipula a seu favor o tempo, a elegância,
a qualidade do que utiliza. Em seus caminhos, cenas de crueldade e flertes com
ricas mulheres em hotéis exclusivos:
(pg 313)... Tinha ficado por alguns momentos olhando a paisagem
adormecida, até que ela olhou para ele e viu que os olhos dele não estavam
voltados para a janela mas, sim, para o profundo sulco entre os seus seios,
onde o luar dava à pele uma brancura de alabastro.
Ele sorriu ao ser surpreendido e lhe dissera ao ouvido: - O luar faz até do homem mais civilizado um
primitivo.
(...)A coxa era comprimida por ele abaixo do ventre e ela lhe sentia a
rígida arrogância do membro. Por um segundo, afastou a perna e logo voltou a
encostá-la, com o prazer daquela pressão no cetim do vestido. Não houve um
momento consciente de decisão; percebeu sem esforço que o queria
desesperadamente entre suas coxas, no íntimo de suas entranhas, a noite
inteira.
Do outro lado, o encarregado
pelas investigações Claude Lebel, ao
melhor estilo do investigador que possui determinação e instintos, que o fazem
ser reconhecido e obter a cooperação das principais polícias do mundo. Com ele,
a missão de encontrar uma anônima ameaça, sob pena de comprometer sua carreira
e o futuro de seu país, e ainda fazê-lo de maneira discreta, evitando o
constrangimento para De Gaulle, que se recusa a alterar sua agenda e reduzir a
exposição pública.
Tudo se passa, obviamente, num
mundo sem internet ou e-mails. Os esforços de comunicação entre polícias e
conspiradores passa por casas de câmbio, reservas em poucas cias aéreas,
telefonemas internacionais que demoram meia hora para serem completados, diferentes
documentos de identidade e exigências legais de diferentes países, no que
Forsyth tem a oportunidade de mostrar os resultados de uma vida de viagens pela
Europa, e o domínio de mais de três idiomas. Um verdadeiro cidadão do mundo,
numa época em que a logística e as comunicações ainda não dispunham de
tecnologia que garantisse sua eficiência.
Vale muito a leitura!
O dia do Chacal é um dos meus livros preferidos. Histórias incríveis baseados em fatos reais me fascina. A bala passar ao lado da orelha de De Gaulle bem no momento em que ele abaixou a cabeça parece um truque barato de livro, mas é verdade, e aí a gente se pergunta se tem uma mão desconhecida por detrás dos fatos, orientando o rumo da História. Muito bem escrita a sua resenha.
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