sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Confissão de Lúcio

A Confissão de Lúcio

Sabe aqueles livros que a gente não lê, porque eram obrigação na escola? Pois é, eu também procurava um resumo (na época não tinha internet, mas apostilas de cursinho resolviam) e com isso me virava suficientemente bem nas provas.

Ao cadastrar o livro de Mario de Sá-Carneiro no skoob, achei que seria desonesto se não o lesse realmente. Acabei por fazê-lo (respeitei no cadastro o período em que tive o primeiro contato com a obra). Minha surpresa foi ter encontrado outro grande autor da língua portuguesa. O livro é rápido, mas com bom ritmo, interessante, com as descrições emocionais e de conflitos internos que tanto gosto.

Ao relatar sua vida no início do século XX, o personagem principal (intelectual e escritor, quem diria!), mostra que a vida de artista não era tão diferente naquela época, da que imagino seja hoje. Em minha opinião, os escritores exploram as atividades do dia a dia, em busca de significados mais profundos, ou de emoções que possam compartilhar com seus leitores.

Esta tarefa amplia a sensibilidade, torna o mundo mais agudo, por vezes cheio de farpas. Não raro, vemos artistas em decisões pouco práticas, apoiados em vícios, ou simplesmente desorganizados. Faz parte da mística, tem gente que até gosta e prega que pode ser necessário um certo descolamento da “normalidade”. De toda a forma, isto pode ser bem sentido no relato deste livro.

Outra reflexão, mais especulativa, refere-se ao fato do autor ter se suicidado aos 26 anos. Era de familia abastada, com vida muito parecida com a retratada em seu livro. Suas certezas são inexoráveis, sem a relatividade de um pensamento pós-adolescente. O resultado? Desesperança de viver sem as dores que o afligiam, e a conseqüente desistência da vida.

É bom instinto de sobrevivência poder mudar de idéia, não levar suas convicções tão a sério, mas que literatura te interessa mais? Aquela apaixonada, dos que lutam para conformar o mundo a suas idéias e expectativas? Ou aquela decantada, daqueles que sentiram os sabores das paixões, consideram-nas belas, mas não são mais suas presas?

Difícil resposta.