PARALELOS é o primeiro romance de Leonardo Alkmin. Sua
carreira envolve atividades como ator e roteirista (Ah! Eu tenho muita vontade
de escrever roteiros!).
Gêmeos num acidente de ônibus. Um morre, mas pelo plano
divino, o outro é que deveria ter morrido. Isso cria um desequilíbrio nas leis
universais. A história se desenrola, alternando entre os acontecimentos na
terra, com o gêmeo que deveria ter morrido, e no outro plano, com o gêmeo que
deveria ter sobrevivido.
A história contada por Leonardo Alkmin tem ritmo frenético
de acontecimentos. Transmitiu para mim uma ansiedade do autor por fazer
acontecer uma história, como se ele tivesse que passar por pontos
pré-estabelecidos. Parece ter tido a necessidade de manter um volume de
novidades vindo, num esforço para manter o interesse do leitor. Seria um vício
de outros formatos a que ele se dedica? O esforço produziu mais de 400 páginas,
mas não evitou um livro ralo.
Ele também tenta fazer suspense sobre o final, imprimindo
uma atmosfera mais “thriller”, em especial na participação de uma repórter investigando
a vida dos envolvidos no acidente. As coincidências que ele tem que criar para
que a repórter consiga viver a história de perto são meio forçadas. De qualquer
forma, consegue não ser óbvio, e o final não decepciona.
Do que eu gostei:
Da imaginação de criar toda uma hierarquia no universo
pós-morte, e definir regras para sua interação com os vivos. Eu sempre gostei
de imaginar que existe algo mais. Se você gosta de histórias que envolvam o
plano espiritual, pode ter bons momentos de diversão, sem um ranço religioso.
Alkmin também é hábil ao descrever seus personagens
adolescentes, o que me faz indicar o livro mais para esse público. As
descrições de viagens, emoções maniqueístas, sentimentos amplificados,
sensualidade, são bastante verossímeis. Parecem lembranças do próprio autor.
Do que eu não gostei:
Da necessidade de “justificar” as regras universais baseado
em teorias da física. Tem trechos muito chatos, como:
“Ao se tocarem,
provocavam a liberdade assintótica. Como estavam reduzidos a quarks, a
liberdade assintótica era a saída obvia, porque, paradoxalmente, quando a distância
entre os quarks diminui, a interação da energia fica mais fraca, até anular-se.”
Nesses trechos, os olhos vão correndo, até que um novo
parágrafo nos devolve para a história principal. E esse “pedágio” se repete por
vários capítulos, falando de quarks, muons, taus e todo o zoológico de partículas.
O autor se atrapalha todo entre a individualidade que ele precisa dar aos
personagens etéreos e seus dilemas, e as regras que definem que esses personagens
“existem” mas não como indivíduos separados do todo.
Eu me lembro de ter tido esse mesmo desagrado quando li
alguns livros da série “Operação Cavalo de Troia”, uma história legal, mas com
páginas de pseudociência, só pra tentar dar uma aura de verdade à realidade
proposta. Pra que isso?
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