quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

A Volta ao Mundo em 80 Dias - Julio Verne

Provavelmente a obra mais conhecida do autor, e sucesso ao redor do mundo, foi meu primeiro livro lido no Kindle. Um belo contraste, ler uma obra de 1873 numa mídia eletrônica.

E esse contraste é o mais saboroso da leitura deste livro. Com a evolução tecnológica dos meios de transportes, pela primeira vez na história da humanidade se tornava possível a um indivíduo provido de recursos dar a volta ao mundo, alternando-se entre navios e trens.

É claro, o mundo daquela época não era tão rico em intercomunicações. O tempo antes da internet e das viagens de avião permitia que cada cultura permanecesse intocada. Viajar era, então, a chance de contato com quase alienígenas. Embora fossem civilizações humanas, as roupas, hábitos e religiões eram profundamente diferentes, e não se conheciam.

O Itinerário
Os protagonistas do livro - o nobre Mr. Phileas Fogg e seu criado Passepartout – numa brincadeira com sua origem francesa, indicando ser capaz de passar por tudo – conseguem superar dificuldades com o idioma, diferenças na gastronomia, passagem por fronteiras, vistos, etc – em sua luta por vencer uma aposta – a volta ao mundo em 80 dias, retornando a Londres.

“Já sei o que é, respondeu Fix. Você olhou a hora de Londres, que está quase duas horas atrasada em relação à de Suez. Tem de acertar seu relógio pela hora local de cada país.
 - Eu! Tocar no meu relógio! Exclamou Passepartout, jamais!
 - Então ele não estará mais de acordo com o sol.
 - Tanto pior para o sol, senhor! Ele é que estará errado!”

Julio Verne, francês, exagera as características inglesas, como a frieza e pontualidade a um nível cômico. Também ressalta a latinidade do francês, com uma postura mais emotiva e humana. Há o deslumbramento diante de cada cultura. Como terá sido para o autor reunir tamanha quantidade de informações sobre diferentes países e religiões? Será que viajou? Conhecia pessoas e obras em diferentes lugares? Pesquisou tudo para escrever seu romance?
O momento em que Fogg aposta sua fortuna no sucesso da viagem
É claro que as vezes as descrições soam estranhas – sugerindo que ele não tinha exatamente ideia do que estava falando – como ao descrever uma manga:

“mangas, de bom tamanho, castanho escuro por fora e de um vermelho muito vivo por dentro, e cujo fruto branco, ao desfazer-se entre os lábios, proporciona aos verdadeiros gourmets um prazer sem igual.”

Por vezes, soa estranho a tradução antiga, como ao descrever o saquê e os quimonos:

“´kirimon´, espécie de roupão cingido por uma faixa de senda formando na cintura, pelo lado de trás, um laço extravagante.”
“Saki, licor tirado do arroz em fermentação...”

Mas o resultado final vale muito a pena. E assim descreve o caminho percorrido, os percalços, as aventuras, num ritmo bastante adolescente, despretensioso de ser um livro culto, mas claramente comprometido com o entretenimento. E que diversão! O livro tem ritmo suave, gostoso, e um final bastante surpreendente. 



E aí, você prefere viajar pelos livros ou de verdade?

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