terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Os Robôs de Isaac Asimov

Eu era garoto na primeira vez que tive contato com o trabalho de Isaac Asimov. Não me lembro sequer do nome do livro. Procurava por literatura de ficção científica -  alguma coisa sobre luta entre galáxias - mas fiquei frustrado. O livro que encontrei na época até tinha uns robôs e especulações sobre o futuro, mas abandonei-o por ter longos períodos com diálogos que me faziam ficar entediado, em minha incipiente experiência como leitor. 

Foi por isso que recebi com desconfiança “Os Robôs e o Império”, das mãos de meu pai. Ele sabia que eu tinha gostado do filme “Eu, Robô” e que este havia sido baseado na obra de Asimov. Valeu muito dar uma segunda chance ao autor! Desta vez, não desgrudei do livro! A experiência de leitura das envelhecidas páginas dessa edição de 1985 foi muito recompensadora!

Mais que ficção científica, Asimov provou ser um exímio futurólogo. Consegue prever o efeito político da evolução tecnológica, bem como as implicações sociais de se ter robôs auxiliando cada uma das tarefas enfadonhas que hoje nos ocupam. Consegue ser muito interessante nos detalhes e manter um ritmo intenso, que torna a leitura muito prazerosa. 

Para manter essa intensidade, conta com muito material, retirado de duas tensões mais importantes. A primeira tensão é a de uma sociedade dividida entre Colonizadores (terráqueos que se espalharam por outros planetas habitáveis), e Espaciais (descendentes dos terráqueos, mas geneticamente melhorados, a ponto de viverem cerca de 400 anos). Nesse pano de fundo, as vantagens e desvantagens da vida longa, e suas consequências sobre a perspectiva de uniões e separações, além da prole “autorizada” ao longo desse tempo. Uma sociedade em que não há mais crimes, pois robôs coibiriam qualquer tentativa de prejudicar outro ser humano, respeitando a primeira das três leis da robótica – as mesmas de “Eu, robô”.

Numa vida longa e sem tarefas enfadonhas, seres humanos modificados perduram, mas para que? Sua satisfação pessoal é ameaçada, pela falta de realizações possíveis, num mundo em que nada precisa ser realmente feito. Sem nossa busca pela felicidade, desenvolvimento e remoção de inúmeros incômodos, estaríamos fadados à decadência e ao vazio existencial? Nesta sociedade, nem o suicídio é uma alternativa aos enfadados, pois os robôs agiriam de maneira veloz para coibir qualquer tentativa de autoflagelo. Seríamos reduzidos a crianças, observadas por seus abnegados “pais” robóticos.



Na segunda tensão – apresentada com muita elegância literária – Asimov nos faz participar dos diálogos entre dois robôs extremamente avançados. Ao acumularem experiências e conhecimentos, tornam suas mentes positrônicas capazes de um diálogo de perguntas e respostas (maiêutica) que os leva a antever movimentos políticos de líderes humanos, agindo à partir daí no interesse da humanidade como um todo – em defesa da primeira lei, e derivações que fazem desta. 

A resultante da coexistência dessas duas tensões permite ao autor levar o suspense até a última frase do livro. Já estou com “Eu, Robô” aqui, e estou virando fâ. E não é preciso me preocupar com falta de material! Asimov escreveu mais de 300 obras! 

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