Gosto de aproveitar o que posso de cada leitura. Enquanto lemos,
nossa cabeça viaja, associando seu conteúdo a nossas experiências pessoais, leituras
anteriores, opiniões. Resulta disto que muitas vezes não é o livro em si que
faz mover as engrenagens da cabeça. As
vezes, o enredo e personagens tão trabalhados pelo autor tornam-se meros panos
de fundo, e o prazer da leitura deriva de uma experiência muito pessoal,
exclusiva. Puxamos um fio do novelo do autor, e por vezes corremos algumas
páginas com olhares vidrados, dando pouca atenção ao que está à frente dos
olhos, concentrados no que está atrás deles.
Acho que aproveitei mais de meus pensamentos pessoais do que
d´A Cidade do Sol em si. Não me levem a mal. O Best-seller de Khaled Hosseini
tem muitas qualidades. Edição bem feita, bem traduzida (me pareceu), tem ritmo
bom, tema interessante, mas desde o início você já sabe qual será sua fórmula.
O autor vai explorar o tema da opressão da mulher no regime Talibã.
No balanço, mostra a capacidade humana de fazer coisas
terríveis uns aos outros, bem como a resiliência do ser humano, capaz de lutar
contra tudo e contra todos. A opressão da violência sexual, colocada em
comparação com a beleza do amor maternal. É bonito, mas batido também. Foi
nesse ponto que minha cabeça “derivou”, por assim dizer.
Devemos pensar historicamente. Há poucas gerações, governos
ocidentais faziam execuções públicas com enforcamento ou guilhotina. Era aceito
na época. Hoje não é mais, e choca nossa opinião quando alguém infringe uma lei
que não entendemos, e sofre uma punição que consideramos bestial. Então, qual
seria o limite entre as diretrizes pelo respeito ao ser humano, e o respeito a
diferenças culturais e valores? Como decidir (e impor a outros povos) o que é
certo ou errado?
Acho que o ponto de equilíbrio está num lindo documento de
10/12/1948. A declaração Universal dos Direitos Humanos é uma obra que respeita
diferenças, mas estabelece um “ideal comum a ser atingido por todos os povos e
todas as nações”. Infelizmente, muitos de nós preferimos ignorar as premissas
deste documento, e continuar investindo em argumentos que nos separam –
religiosos, nacionalistas, políticos, étnicos, etc.
Não perco a esperança. Gosto de pensar que nossa evolução,
por dolorosa e lenta que possa parecer, é também inevitável. É essa minha
expectativa para as mulheres afegãs representadas no livro de Hosseini. É minha
expectativa que cada opção por um comportamento gentil e respeitoso contribua
para o mundo que quero deixar para meus filhos. Utopia?
A cidade do Sol me cativou pelos mesmos motivos que você e apesar de ser uma "fórmula" mais que usada por escritores e jornalistas, não me canso de ver as diversas visões de um mesmo tema. Principalmente da cultura do Oriente Médio. Mas como você mesmo disse: quem somos nós pra ditar o que é certo e errado em outras culturas? Mesmo assim, ainda acho chocante saber como as mulheres são tratadas lá. Há um livro documentário muito interessante com depoimentos de mulheres reais, falando sobre sua vida naquele país. Depois te passo o nome. Utopia, infelizmente. ótimas observações! Fico feliz que tenha gostado.
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